A cada dia estou mais parecida com minha mãe
- Lucianne Moreira

- 24 de jan.
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de jan.

Até o carro desaparecer na primeira curva, as lágrimas rolavam.
As minhas vinham em soluços.
As de minha mãe, só recentemente descobri, eram ainda mais dolorosas do que as minhas.
Compreendi isso no dia em que fui eu quem fiquei vendo minha filha partir estrada afora, seguindo o curso natural da vida.
Escolhas minhas e dela.
Escolhas da minha mãe ao nos incentivar partir em busca de novos horizontes, que ela julgava melhores do que o seu.
Hoje, na dor, questiono se realmente eram.
Os momentos que perdi ao lado dos meus pais não voltam mais.
Meus pais não voltam mais.
Para minha mãe, uma vida melhor para as filhas significava estudo, trabalho e um bom companheiro. Isso conquistei, compartilhando do desejo dela.
Mas agora, com tudo em mãos, ao ver minha filha partir, compreendo o preço que pagamos. Meus pais e eu.
Querer o melhor dos dois mundos para nós foi impossível.
Meu pai, da janela, nos acenava em silêncio. Com um nó na garganta que nunca deixou desatar e, por isso, o adoeceu tanto.
Ah, mãe, ah, pai...hoje finalmente entendo vocês.
Como sou grata por esse amor tão grande que nos deu asas e nos ensinou a voar.
Agora estou aqui, repleta de despedidas e saudades.
Com os olhos marejados, fito um novo horizonte.
Um horizonte que se encontra com o céu, onde imagino vocês nos observando.
Será que valeu a pena?
“Claro!”, ouço em meu coração a resposta de vocês.
Minha razão sabe que não adianta imaginar os caminhos não vividos, mas meu coração insiste em chorar.
Pelo menos por mais alguns minutos.
Depois, as lágrimas dão lugar às lembranças e à saudade.
Depois, vem a rotina e embaça essa saudade, tentando preencher meus vazios.
Digo a mim mesma, com convicção, que o melhor da vida ainda está por vir.
Busco novos sonhos na tentativa de desatar os nós da garganta.
Diariamente, abençoo minhas filhas como meus pais faziam.
A cada dia que passa, estou mais parecida com minha mãe.
E, quando fico observando o carro de minha filha desaparecer na primeira curva da estrada, sinto que vejo tudo com os olhos dela.
São as lágrimas de minha mãe que molham meu rosto.
Escrito no verão de 2024



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